Parto

Rio de Janeiro - RJ

Conrado

Ela sorria durante as contrações.


Não, eu não quero romantizar. Não foi assim até o final. Mas sim, o sorriso esteve presente em todo momento.


Eu só queria deixar registrado aqui o quão mágica a vida é. O quanto os acontecimentos à nossa volta nos tocam e são capazes de alterar nossa realidade.


Exercitando minha vulnerabilidade: no dia anterior a esse parto eu tive dificuldade pra dormir. Estava ansiosa. Usei ferramentas para me sentir melhor: meditei, respirei, tomei florais, minha tintura de placenta, usei óleos. Eventualmente dormi, mas não acordei bem. Palpitações, tremedeira, cabeça a mil. Porque? Não sei. A ansiedade muitas vezes não tem razão de ser, ela só é, pelas pressões naturais da vida moderna, a velocidade das informações que recebemos, a rotina exaustiva, a necessidade de sobreviver.


Mas um bebê ia nascer e eu precisava estar lá de corpo, mente e alma. Fui.


E por mais que tenha chegado inteira, aberta e com amor, estava com meus bolsinhos pesados da minha própria dor, como em tantos outros partos, como em tantos outros eventos, como em tantas outras vezes em que a vida me sussurrou: precisam de você, só vai e dá o seu melhor.


Mas chegar lá e me deparar com esse sorriso mudou alguma coisa dentro de mim. Não sei explicar a razão.


A vida pedia passagem e o sorriso dela dizia "pode passar". E algo dentro de mim sentia que podia passar também.


Me senti num fluxo. A luz, que sempre é uma questão, estava confortável, não precisei me preocupar com a eterna batalha intra-câmera entre ISO/abertura/velocidade, encontrei muitas pessoas conhecidas, me senti querida e acolhida. Eu registrava uma família cheia de amor, vivendo um momento pelo qual claramente aguardaram muito, aceitando o que vinha com visível gratidão.


Fotografar para mim me confere o superpoder da presença. De estar no aqui e agora. Tudo fica lá fora enquanto me torno expectadora. Mas era mais do que isso.


E eis aqui meu ponto: a vida é SURPREENDENTE. Capaz de tomar caminhos inesperados e criativos e nem sempre a gente sabe o que fez pra isso acontecer. O que a gente faz toca o outro sempre. Dê seu melhor.


Local: Perinatal Glória

Equipe: Grupo Afeto

Doula: Ana Lucia Baptista