Maria Julia

Vitor é um amigo meu de faculdade. Um cara discreto e muito gentil, que eu não via fazia uns bons anos. Foi uma surpresa para mim receber uma mensagem sua me contando do desejo dele e da esposa de registrarem o nascimento de sua primeira filha, Maria Luisa. Fui à casa deles e conheci Tatiana, sua esposa. Os dois me pareceram aquele tipo de casal que encaixa em tudo, sabe? Super entrosados, parceiros, alinhados nos desejos e pensamentos sobre a mate/paternidade e o parto. Eles sabiam o que fazer, mesmo nunca tendo passado por isso. Expliquei da importância da doula e eles estavam considerando, mas tinham dúvidas sobre a presença de uma outra pessoa.

Numa segunda feira eu estava dormindo quando eles ligaram e informaram que a bolsa havia rompido, mas estavam sem contrações. O protocolo da Casinha para bosa rota (casa de parto onde eles teriam Maria Julia) era se dirigir para lá assim que ela rompesse. Como o local era distante para todos, nos dirigimos todos juntos para lá. Entre a conduta expectante, o uso de óleos, escalda-pés e uma leve indução, pude observar a dinâmica entre eles e entender que ali realmente não havia espaço para mais ninguém. Para aquele casal, era importante estarem um com o outro, conectados, em seu espaço privado. Mais do que nunca, procurei não ser invasiva, não quebrar a sacralidade desse espaço que eles tinham e era só deles.

Não tinha plano de parto. Houve uma tentativa de escrevê-lo antes das contrações mais intensas, mas não teve espaço. O plano estava traçado em algum lugar mais profundo no coração deles ou no astral. Permaneceu a folha em branco, só com seus 3 nomes, juntos. Pra mim, foi um resumo simbólico e significativo do que estava por vir.

À medida em que Tatiana ia imergindo nos terrenos desconhecidos da partolândia, mais parecia a mim que ela era uma fada trazendo à luz uma fadinha. Nunca presenciei um parto tão serenamente lindo, com uma atmosfera energética tão delicada, com lugar para tanto carinho, tanta conexão, tanta beleza. Sempre enxergo o parto em todo seu contexto, afinal, um nascimento e sua história afeta a todos que se encontram em sua atmosfera. Entretanto, pela primeira vez, nada mais teve relevância, só aquelas 3 vidas, trabalhando juntas, resilientemente, cúmplices, íntimos, completos em sua unidade.

Quando tudo já era calma, e a enfermeira veio sugerir que a bebê fosse ao seio, Vitor tomou seu lugar e juntos, ele e Tatiana se apropriaram do processo e se puseram a dar o peito à pequena Maju, juntos. Me lembro que naquela hora consolidei o sentimento que estava tendo: que time que esses 3 formam! Que seja assim por toda a caminhada desses 3 nessa vida. Como imagino já ter sido em muitas outras.