Autoria de Pamella Souza (Segredos da Placenta) e Ana Paula Gaia
Sempre que alguma celebridade vem à público mostrando que ingeriu/fez uso de sua placenta de alguma forma, nós placenteiras, recebemos muitos questionamentos. Muitas pessoas desejam surfar nas ondas das polêmicas e postam todo tipo de opinião e quem não entende do assunto fica confuso.
Por isso gostaríamos, de esclarecer alguns pontos!
1- Para ser considerado evidência científica, um estudo precisa atender a diversos critérios como ser randomizado e ter um número expressivo de participantes. E NÃO HÁ EVIDÊNCIA CIENTÍFICA que comprove os benefícios da ingestão da placenta. Isso não significa que não existam benefícios, apenas significa que não temos estudos sólidos que comprovem isso.
2- Em contrapartida também NÃO HÁ evidência científica de que haja MALEFÍCIOS. Nenhum estudo de NÍVEL A conseguiu provar que a ingestão da placenta apresenta riscos, nem para mãe nem para o bebê.
3- Existe um estudo laboratorial de 2018 que analisou a presença de substâncias na placenta. O estudo confirmou que, tanto crua como desidratada, na placenta há presença de hormônios, vitaminas e minerais. TOXIDADES SÃO MÍNIMAS e as BACTÉRIAS COMUNS SÃO ELIMINADAS SE O PREPARO FOR ADEQUADO. (veja o estudo aqui)
4- Não é qualquer pessoa que pode consumir. Essa é uma medicina feita para a dona da placenta e ainda assim, com TRIAGEM DA SAÚDE pra identificar se há alguma doença viral ou infecções que impeçam a manipulação e consumo seguro.
5- Afinal, tem risco para mãe e bebê? Uma revisão de 23 mil nascimentos nos EUA não apontou nenhum indício que levasse a uma preocupação em relação a prejuízos para os bebês cujas mães consumiram sua placenta. (veja mais sobre esse estudo aqui)
6- Como profissionais da assistência ao parto, somos profundas defensoras das evidências científicas e QUANDO ELAS EXISTEM, devem ser defendidas sem medir esforços. Mas na sua ausência, é importante ter em mente alguns pontos:
- Determinada prática trás algum malefício comprovado ou observado com frequência?
- A pessoa está informada sobre a prática?
- Quais são as motivações dessa pessoa?
7- O consumo da placenta em uma sociedade machista e misógina como a nossa causa todo tipo de opinião contrária. São séculos de condutas que buscam transformar tudo que vem do corpo feminino e seus símbolos em algo sujo, impuro ou pecaminoso, exceto se estão a serviço e disposição do outro.
8- Se compreendermos esses pontos podemos tranquilamente preservar o DIREITO de escolha da pessoa, e sobretudo respeitá-la em seus desejos. Temos o direito de ritualizar da forma que queremos os nossos ciclos, nossas passagens.
Por trás das medicinas e artes placentárias há uma celebração – nada silenciosa – de nossos corpos e sua potente capacidade de cura.
E gostaríamos também de provocar mais algumas reflexões… a placenta é um órgão que não precisou que ninguém morresse para estar ali disponível fora do corpo, portanto é absurda a comparação com canibalismo. Ao contrário, uma vez fora do corpo esse órgão representa que uma nova VIDA começou. Ela não veio de um outro animal que viveu precariamente uma vida miserável, foi sacrificado e depois passou por inúmeros intermediários até chegar à mesa. Porque mesmo achamos tão absurdo o consumo desta e não de outras carnes?
Os comentários no caso de celebridades que fizeram algum consumo da placenta, são violentos e desrespeitosos. Desaprendemos a dialogar. A meta agora é lacrar, aproveitar engajamento, surfar nas polêmicas, e aparentemente, as pessoas não conseguem fazer isso sem ridicularizar, julgar, condenar e ofender.
Seja como defensoras ou praticantes da placentofagia não nos pautamos somente em evidência científicas, esperamos e buscamos produzir mais estudos, mas a menos que hajam provas que o consumo medicinal definitivamente é prejudicial, seguiremos porque os benefícios que presenciamos vão além do que se mede fisiologicamente, ou quimicamente nos corpos, existem muitas outras motivações empíricas e pessoais para nossas práticas.