Parto
Rio de Janeiro - RJ
Bento
A gente costuma dizer que cada gestante tem o parto que precisa. Pra alguns essa frase pode soar como uma sentença. Eu entendo, porque já senti isso ao ouvi-la, lá na época do nascimento do meu primeiro filho, que foi uma cesárea muito bem indicada e necessária. Eu me perguntava o que eu tinha que aprender nessa vida que me fizesse precisar daquilo que eu mais temia, que era não viver ativamente o nascimento do meu filho. Esse acontecimento me fez mergulhar de cabeça no ativismo, que depois me trouxe outras pautas, depois me trouxe à fotografia de parto, depois à doulagem e à um propósito de vida pautado no despertar feminino. Mas ainda não tinha sido suficiente pra eu entender porque precisava virar mãe daquele jeito. Somente 8 anos depois eu consegui ter outra perspectiva: quando pari meu filho mais novo e não me senti NADA diferente por isso. Não foi transcendental, não me senti mais capaz de dominar o mundo, não me senti "mais mulher" nem "mais mãe" por ter parido como muitas acusam as que são a favor do parto normal de se acharem. Meu parto foi suado, foi lindo e valeu cada esforço de uma gestação cheia de percalços pra poder viver aquilo que eu desejava viver. Foi um encontro com meus medos, minha sombra e com a força que eu tinha para vencê-los. Foi um resgate de algo que eu perdi lá trás, não pela experiência de nascimento que eu tive, mas por estar tão imersa na minha dor do não-parto, que não consegui ver o quanto eu havia sido confrontada lá atrás com os mesmos medos, sombras e, em um grau muito maior, com minha força de vencer cada um deles pra ter meu filho nos braços. Minha experiência de parto natural me fez ver que eu havia sido muito mais guerreira e forte por ter vivido um não-parto. E que isso havia moldado a mulher que eu sou hoje. E então eu entendi finalmente que precisava mesmo de cada uma dessas experiências.
O parto da Ellen me trouxe essa lembrança e me tocou profundamente. Porque ela foi MUITO guerreira. Eu testemunhei sua vontade de parir e seu esforço até os limites do seu corpo. Vi quando ela enfrentou medos e sombras bem desafiadores e no final precisou ir além: uma cesárea sob anestesia geral por resistência anestésica. Nada saiu como planejado, e eu relembrei a dor que isso inflige. E eu a admirei ainda mais ao ver o sorriso dela no final quando finalmente conheceu seu amor, sem ainda saber que ele era "O" Bento. Foi precioso. Bento nasceu bem, apesar das circunstâncias, mas a experiência da Ellen é importante, sim. E mesmo agradecida como deve estar por seu pequeno estar bem e em seus braços, espero que a Ellen se reserve o direito de elaborar sua experiência como precisar.
A jornada só começou para a Ellen. Uma vida nova com uma vidinha nova, uma elaboração de uma vivência que pode ter mil caminhos, um relacionamento que vai passar por mudanças e crescimento... Eu só desejo que seja leve. E que a ressignificação daquilo que se desejava seja breve e iluminada.
Maternidade: Perinatal Barra
Obstetra: Daniele Miguel
Neonatologista: Marcelo Brito
Doula: Cátia Carvalho